Belém, capital do Pará, foi escolhida como sede da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30). No entanto, o estado se mantém, desde 2006, no topo do ranking de desmatamento da Amazônia Legal.
Dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), apontam que, desde 1988, o Pará perdeu 166.774 km² de cobertura florestal. Apenas em 2022, foram desmatados 4.162 km².
Para o pesquisador Lucas Ferrante, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), esses números refletem o fato de o estado estar localizado no chamado “arco do desmatamento”, região que concentra as maiores taxas de devastação da floresta.
Enquanto isso, a reconstrução da BR-319, rodovia que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), tem licitação prevista até abril deste ano para a retomada das obras em pontes de trechos fluviais, como Curaçá e Igapó-Açu. Segundo Ferrante, a pavimentação da estrada pode causar impactos ambientais severos no Amazonas.
“O Pará ainda é o estado mais afetado por estar dentro do arco do desmatamento. No entanto, esse ciclo já avança para o Amazonas, especialmente ao sul da BR-319. Ambos os estados apresentam fragilidades na fiscalização ambiental, agravando ainda mais o cenário”, avaliou o pesquisador.

Declaração de Lula e repercussão
A escolha de Belém para sediar a COP30 gerou críticas. Na última sexta-feira (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a decisão foi fruto de sua “teimosia” e sugeriu que o Pará deveria ter sediado jogos da Copa do Mundo de 2014, em vez do Amazonas.
A declaração provocou reações, especialmente devido ao histórico de desmatamento do estado. Para Ferrante, a realização da COP30 em Belém deveria estar associada a medidas concretas de preservação da Amazônia e ao fortalecimento do protagonismo das lideranças indígenas.
A conferência deve reunir mais de 60 mil participantes, incluindo chefes de Estado, diplomatas, empresários, investidores, ativistas e representantes dos 193 países membros da ONU.